Meu caso com o Brasil

A minha relação com o Brasil é como um relacionamento de longo prazo que, após anos de felicidades compartilhadas, acaba e cada um vai para o seu canto. Na verdade, no meu caso, o Brasil ficou no lugar dele e eu acabei saindo de casa.

As pessoas perguntam o que deu errado, afinal tudo parecia bem. É difícil nomear um motivo. Ninguém termina uma relação tão duradoura por um motivo único (a não ser que seja algo muito sério, como uma traição), mas o Brasil não me traiu. Só que assim como uma relação de longo prazo, pequenos desgastes acumulados vão minando. Eu não aguentava a insegurança de São Paulo, corrupção em todos os níveis da sociedade, a guerra diária de trabalhar em agência de publicidade, a falta de estabilidade econômica, e tal.

Porém, apenas com o passar do tempo você começa a observar que naquela relação que não deu certo o problema não estava apenas no parceiro, mas em você também. E muitas vezes o problema do parceiro era um reflexo do seu mau comportamento. Ou seja, era fácil criticar o meu país, enquanto eu pouco contribuía para que ele fosse melhor. Enquanto a relação durava, parecia que só o outro fazia cagada e eu era o perfeito. (Vejo toda semana esses casos no Dia das leitoras. Um monte de mulher perfeita criticando o parceiro problemático).

Hoje, faz dois anos que terminei o relacionamento. No primeiro ano me joguei no mundo e tive vários casos com os mais exóticos países, tal qual uma pessoa que termina um relacionamento longo e cai no mundo dos solteiros. Até que encontrei uma loira gata, bem sucedida e charmosa chamada Australia. Aparentemente muito melhor que a morena, baixinha e meio perdida chamada Brasil.

A primeira fase do relacionamento foi excelente, pois me proporcionava tudo o que Brasil deixava na mão. Só que com a convivência, a nova parceira começou a demonstrar os seus defeitos. E apesar de muitas qualidades em relação ao Brasil, falta paixão, cultura, raça, gingado e espontaneidade. Meus amigos invejavam por eu estar saindo com essa loira turbinada, mas só eu sei que apenas a sua aparência é melhor, no fundo a baixinha é um gigante e dá um banho na loira.

Quando vi a abertura das Olímpiadas foi como se eu tivesse visto a ex andando imponente pela rua depois de um longo tempo sumida. Os problemas dela não foram resolvidos, mas passa um filme de tudo o que vivemos, faz pensar no potencial que ela tem e os olhos marejam numa mistura de felicidade, orgulho e saudade.

Seria difícil reatar a relação nesse momento, apenas depois de um reencontro e por uma frustração com a loira. Do meu lado, ainda preciso amadurecer mais, me capacitar mais e talvez viver outra relação. Porém, estou feliz em perceber que a morena ainda me orgulha e que nossa história não acabou.

Falha de comunicação

A Publicidade as vezes me cansa. Apesar de ser formado na área (ou talvez por ser formado na área) mais da metade do que vejo de anúncio me desgasta. Falta bom senso em todos os lados, do conteúdo ao formato. O Youtube é um dos casos que mais incomoda, pois eu não tenho a opção de simplesmente virar a cara para outro lado, como no caso do outdoor, ou simplesmente mudar a estação do rádio.

Faço minhas listas de clipes de rock no meu canal para ouvir enquanto estudo (ou lavo a louça) e de repente sou interrompido por uma propaganda tosca, sem nenhuma relação com rock e que em boa parte das vezes não disponibiliza o milagroso botão “pular anúncio”. Hoje, por exemplo, tive que esperar uma eternidade, enquanto duas crianças brincavam com vaquinhas de plástico  (essa foi a última propaganda de sorvete que me enfiaram goela abaixo em pleno inverno australiano).

O post não é sobre Publicidade, mas há um conceito básico na área perfeitamente aplicável no nosso cotidiano, que sãos os Emissores e Receptores de informação. Já explico. Antes contarei dois casos.

Estava eu quietinho no meu canto da sala de aula, com fones de ouvido e a mochila estrategicamente colocada na única cadeira ao meu lado para que ninguém me perturbasse, quando a Maria apareceu e perguntou se poderia sentar ali. Não seria muito educado negar e minha mochila cedeu o lugar. Não deu dois minutos até que ela puxasse assunto e fizesse com que meus fones de ouvido cedessem lugar aos seus problemas pessoais.

A Maria é uma colombiana simpática, mas que as vezes incomoda com a sua completa informalidade, falta de tato e foco. Ela está na Austrália há 4 anos e nesse período apenas trabalhou segurando placas de trânsito (um dos trabalhos braçais mais bem pagos por aqui). Nesse tipo de trabalho, você não conversa com ninguém, não pensa e fica horas em pé. Resumidamente, o inglês dela é ruim, ela não aprendeu nenhuma habilidade e agora precisa voltar ao seu país e se reposicionar no mercado de trabalho.

Maria perguntou se eu poderia revisar o currículo dela.  O negócio era um desastre, tanto no formato quanto no conteúdo. O objetivo profissional estava: “Trabalhar na área financeira, realizar projetos de marketing e participar em projetos de design”. Na sequência vinha as suas “qualidades pessoais”, em que uma série de lugares-comuns foram despejados ali, me dando a impressão de um copiar e colar do Google. Depois vinha um samba do criolo-doido de experiências profissionais desconexas (ora mesclando com a Colombia, ora com a Austalia). Diante daquilo me senti como um cara questionado por uma mulher sobre o que ele achou do novo corte de cabelo, que mais parece saído de um pet-shop.

Na mesma semana recebo email de uma leitora chateada, pois o cara que ela sai só está a fim de comê-la. Na história ela relata que na faculdade ela focou praticamente o período inteiro no curso, em relacionamentos casuais e festas. Só que agora, pelo visto no final da faculdade, ela encontrou um cara que começou a sair apenas pelo sexo, mas acabou apaixonando-se. Ai ela me questiona se o “problema” é com ela ou com ele para que a coisa não fique séria. Dei uma fuçada no Facebook dela e ele comprova o que eu imaginava, muitas fotos na balada, decotes e milhares de selfies solitárias.

Mas o que a propaganda do Youtube, a minha amiga e a leitora tem em comum? Ambos são emissores de informação para um receptor, eu para a propaganda de sorvete, o recrutador para a minha amiga e o carinha para a leitora.

E o que esses emissores estão fazendo errado? Nenhum deles entende o seu receptor. Hoje é um dos dias mais frios aqui, são 15:00 e desde que acordei não tirei as meias do pé, estou praticamente sentado no aquecedor e a última coisa que quero ver na frente é algo gelado; minha amiga quer divulgar seu currículo como se fosse uma barraca de frutas; já a leitora quer mostrar que agora está disposta a namorar, mas toda a sua história recente e fotos dizem o contrário.

E a solução? Tive que praticamente refazer o currículo da minha amiga para que ele tivesse um foco; para a leitora, reveja a mensagem que está passando para o cara. Não há mal algum em ter tido uma fase de curtição e agora querer se aventurar em um relacionamento. Porém, não basta apenas querer, é preciso mostrar. Seja menos acessível em bootie-calls.  Dê uma maneirada em fotos de balada, de decotes e selfie solitária. E antes que me acusem de machista, é só pensar no outro lado. O que você acharia de uma cara com selfies no espelho, fotos de sunga e na balada com amigos?; e finalmente, para a propaganda de sorvete, estou pensando em enviar o meu currículo para a agência de publicidade australiana. =D

 

Sobre segredos

A internet é como se fosse a zona limítrofe do rio Tietê, se você ir para um lado pode encontrar coisas bonitas, vivacidade, natureza, isso é, coisas boas da vida; mas se você vai para o outro lado, vai encontrar um monte de coco, sujeira, tristezas, coisas mortas (ou morrendo) e tal. Na primeira versão do blog, experienciei esse limite dezenas de vezes, algumas hilárias, outras tristes.

Como a audiência da versão atual ainda não soma os 500.000 pageviews da anterior, infelizmente não recebo tantos chorumes na minha caixa da entrada. Porém, reviverei uma dessas histórias que recebi há alguns anos e choro de rir sempre que releio.

Vamos lá:

“No post passado algumas leitoras chiaram dizendo que estou muito ácido, que só falo de mulher tosca e que esqueci de enaltecer as mulheres bacanas que existem por ai.

Elas têm razão, anda faltando um açúcar no blog, algo que faça com que elas se apeguem a algumas qualidades desses perfis “bacanas” e fiquem otimistas acreditando serem um partidão, tal qual uma garota que descobriu em um teste da revista Capricho que é uma “Mulher sexy”.

O problema é que não estou com ânimo e pegada para escrever sobre coisas leves e fofas. E para piorar, me deparo com um texto para a Sexta das Leitoras que beira o surreal. Como não tem muito que comentar, fiz um bem bolado da Sexta das leitoras com a Rapidinha do Cafa.

O texto abaixo foi transcrito da mesma forma que foi enviado a mim (custei a acreditar que fosse verdade).

“Olha cafa, eu estou sempre lendo seu blog, e lendo a sua atualização do dia 7 de maio sobre passado, resolvi conta uma história minha.

Eu um dia dei bobeira de fala do meu passado pra um cara que eu tava ficando, contei das loucuras que fiz em um dos carnavais da minha vida.

Estava no meu primeiro dia de carnaval em cabo frio, eu e duas amigas, e resolvemos entra na onda do coletivo

Cafa > Adorei a expressão

tudo que o cara fazia com uma, tinha que faze com a outra também. Se o cara mim beija se tinha que beija também as outras duas, e assim vice e versa, mas acontece que tudo isso fico serio de mais com um cara lindo de mais que encontrei La

Cafa > Imagino o grau de seriedade da situação

e as duas caíram e cima dele, i eu nem pude fala que nele eu não queria coletividade

Cafa > Fantástico

por que elas caíram em cima dele de um jeito, que quando eu comecei a fala que nele não tinha coletividade, uma delas já começo a explica pra ele como que funcionava com nos três.

Resumindo tudo isso, fomos nos três mulheres pra um motel

Cafa > Adorei a solução

só com ele de homem pra da conta de nos três, i ele foi o meu segundo homem, pois o carnaval foi em fevereiro i eu tinha perdido minha virgindade em janeiro do mesmo ano.

Foi incrível, tudo foi muito bom.

Ai, eu ingênua de mais, chego na minha cidade, vou sai com um cara, e do a besteira de conta dessa historia pra ele, e o pior que contei pra ele da primeira vez que sai com ele. Tola de mais NE? Pois e!

Eu com essa besteira minha, o cara simplesmente mim propôs de um dia i nos dois mais um amigo dele, só pra mim, ou então pra mim leva uma amiga minha e ir eu essa amiga minha e ele a um motel.

Eu não aceitei, pois isso foi uma experiência na minha vida que foi boa, eu não posso nega isso! Mas não quero BIS”

Cafa >  Está certa, que absurdo. Ele deveria ter te pedido em namoro.

Olha, realmente não tem muito que eu falar aqui sem ser grosseiro, repetitivo e amargo, mas pqp…bom fim de semana vai”.

(fim)

Tem pessoas que se vangloriam de dizer “minha vida é um livro aberto”.  Na minha opinião, ou são ingênuas ou simplesmente idiotas. A maioria das pessoas tem experiência(s) que não se orgulham e/ou que diz respeito a si próprias. Abrir os segredos mais íntimos ao parceiro não vai fazer o amor aumentar, mas muitas vezes gerar dúvidas desnecessárias.

Já li várias histórias de homens que se abriram com suas mulheres a respeito de casos homossexuais que tiveram e de mulheres como a leitora acima que entraram na onda do coletivo e colocaram uma grande interrogação na cabeça do(a) parceiro(a).

Ninguém precisa fingir o que não é, pois um dia máscaras caem. Porém, nesses casos eu sigo a ideia do “Pássaro Azul” (leia aqui na íntegra), um excelente poema do glorioso Charles Bukowski. Bem resumidamente, o “Pássaro Azul” seria um traço da sua personalidade (ou no caso da história de hoje, os segredos mais íntimos) que é melhor prendê-lo a “deixa-lo foder o seu trabalho”.

A Feminista Modinha

Na primeira versão desse blog  eu tinha dois tipos de “inimigas”. As leitoras paraquedistas e as feministas modinha. As primeiras eu até me divertia, pois eram aquelas pessoas que chegavam perdidas pela busca do Google faziam um comentário ofensivo e inútil (muitas vezes engraçado) e nunca mais voltavam. Já as feministas era uma relação de amor e ódio, elas amavam me odiar. Todos os posts que eu escrevia eram uma saraiva de mimimis, até mesmo quando eu dava dicas de perfume (eu era “fútil”). Porém, elas sempre voltavam para acompanhar os últimos posts.

Hoje, elas estão adormecidas ou talvez eu não esteja tão polêmico a ponto de levantar o ânimo delas, mas hoje resolvi falar um pouco.

E não, não sou contra feminismo. Acho a essência do movimento bastante válida, inclusive as mulheres da minha família são exemplos de um feminismo inteligente, que é buscar o tratamento igualitário entre os sexos, mas reconhecendo que em muitos aspectos eles são diferentes. E isso não quer dizer que um seja inferior ao outro, apenas diferentes.

Pensei em escrever esse post no ano passado, mas sempre me faltou um gancho, até que ele chegou semana passada, quando um amigo (que respeito bastante a opinião) curtiu esse post que eu publico na íntegra abaixo e faço os meus devidos comentários. Óbvio que a escritora não traduz todas as linhas do feminismo, muito menos faz uma defesa aprofundada sobre a causa. Porém, o discurso dela possui elementos que encontro na maioria das feministas modinha.

“Circle lenses, já ouviu falar? É uma lente de contato que faz a sua íris parecer maior, dando a impressão de olhos grandes e mais atraentes. Uma amiga ia sair com um cara do Tinder e resolveu usar um par pra deixar o olhar mais instigante. Me mandou foto dos olhos dela, com e sem a lente, pra eu ver a diferença”.

Daí eu pensei, bicho, as minas vão longe demais pelos caras. E às vezes nem é por um cara que é o amor da vida dela, é só uma trepada casual. Essa amiga, além de embelezar a íris, tinha se munido de todo um arsenal de maquiagem importada, uma boa lingerie, unhas recentemente pintadas, um vestido novo e ia ficar montada a noite toda em cima de saltos de nove centímetros, onde ela equilibraria um metro e sessenta e nove de corpo totalmente depilado à pinça e cera quente”.

Cafa > Aqui aparece a primeira falha no argumento das feministas modinha. A mulher não pode agir diferente do homem, ela precisa ser uma réplica (tosca) masculina para alcançar a igualdade. Concordo que a garota acima exagera na questão da lente. Porém, qual o problema em usar maquiagem ~importada~ ou uma boa lingerie se ela tem condição para isso? Já conversei com muitas mulheres sobre essa questão de se arrumar e muitas delas fazem isso por elas, porque as fazem sentir mais bonitas, confiantes e desejáveis.

Mulheres bem resolvidas e com a sua estima calibrada sabem que não há problema algum em dormir toda produzida com o cara e acordar descabelada dia seguinte. 

Diante dessa perspectiva de todo um estica-e-puxa pra ficar bonita pro coito, eu fiquei curiosa a respeito do que os caras faziam quando iam encontrar mulheres em quem eles tinham interesse sexual (ou quando já sabiam que a jiripoca iria piar na noite vindoura), porque do lado de cá do gênero, uma bimbadinha casual parecia uma epopeia. Perguntei pra uns 15 amigos meus a respeito. A resposta deles foi bastante consistente e o ritual de todos era quase idêntico:

tomar um banho

fazer a barba (não vale para os barbudos, que por sua vez davam aquela ajeitadinha)

passar desodorante e perfume

usar uma cueca em bom estado

Os mais dedicados acrescentavam uma aparada na região pubiana, corte das unhas e arrumavam o cabelo. Um disse que tirava a monocelha.

Cafa > Talvez a sua pesquisa ficou restrita ao círculo social ao qual você faz parte. Por estar do lado de cá do gênero, posso lhe assegurar que há homens que se depilam inteiro,  vão pra academia antes do encontro para parecem maiores, fazem todo um ritual para arrumar o cabelo, escolhem o sapato mais alto, a roupa que esconde a barriga e por ai vai.  Há excesso nisso? Sem dúvida, assim como a lente da sua amiga.

Porém, tirando a bizarrice da lente, qual o grande exagero da sua amiga? Homens escolhem sua melhor cueca, mulher a sua lingerie. Elas pintam as unhas, eles fazem / aparam a barba. Restam então os dois reais inimigos das feministas modinha, as maquiagens e a depilação.

Para essas defensoras, as mulheres devem colocar o mínimo (ou nenhuma) maquiagem e deixar os pelos tomarem conta do corpo. Falarei mais sobre isso.

Pois bem. Há algum tempo atrás, eu decidi que esse seria todo o esforço que eu faria pra transar com um cara: o mesmo esforço que um cara comum faz pra transar com uma mulher. Pouca ou nenhuma maquiagem (desapeguei do delinador babadeiro), sem salto, sem depilar o corpo, sem pintar as unhas. Olha, você até pode adorar fazer a Lupita Nyong’o no Oscar de 2014 pra todos os caras com quem você sai, não tem problema nenhum. A questão aqui é: você não é obrigada. Isso nem devia ser esperado de você. Porque o que é esperado dos homens é seu estado natural, mas uma mulher em seu estado natural é considerada uma imitação ruim de homem. Feminilidade é sinônimo de artifício.

Cafa > E no seu raciocínio feminilidade é sinônimo de masculinidade. Credo. O homem em seu estado natural tem um piroca pendurada, a mulher uma cavidade. Ou seja, sem nenhuma produção já são seres humanos diferentes fisicamente. E NOVAMENTE, isso não significa que por eu ter um talo sou melhor que quem porta uma cavidade.

Gata, a sua mãe, a minha mãe, as nossas tias, até a Claudia Ohana tinham uma juba na periquita anos depois que sutiãs queimaram em Paris, que a pílula foi criada e permitiu um sexo sem compromisso, entre outras conquistas femininas. A mulher depilar hoje em dia não tem relação alguma com machismo/feminismo, da mesma forma que homem usar coque. É apenas um modismo da época. Se é saudável ou não, é outra discussão (especialmente homem usando coque. Hehe).

E você está completamente enganada (ou tendenciosa) ao falar que esperasse os homens em seu estado natural. A maioria das mulheres odeia pelos e homens com tufos nas costas, pelo saindo pra fora do nariz / da orelha e uma mata na região pubiana são motivos de piada. Que mulher hoje em dia acharia o Tony Ramos com suas luvas de pelo um sex symbol?

Veja, isso tem a ver com o mundo inteiro te dizendo que, a princípio, você está feia. Que seu corpo está errado. Que você não está sendo suficientemente alguma-coisa. A gente fura a orelha pra pendurar brinco antes de saber andar. E daí pra frente isso destrambelha de um jeito tal que quando chegamos aos 20 estamos pagando por serviços estapafúrdios, como permanente de cílios. Em 2014, as brasileiras lideraram o ranking mundial de cirurgias pra diminuir os lábios vaginais (quem falar que a gente faz isso porque quer, volta dez casas e passa duas rodadas lendo um livro-texto de sociologia).

Cafa > Aqui concordamos em partes. Certa vez, conversando com uma amiga venezuelana, ela me disse que as mulheres por lá desde pequenas são ensinadas a se portarem como miss e me mostrou um vídeo da sua prima de (sei lá) três anos de idade andando de salto alto, toda maquiada e fingindo desfilar. Aquilo pra ela e a mãe era o máximo da fofura, pra mim uma estupidez sem tamanho. Do lado de cá do sexo, já vi vários pais incitando os filhos de 4 anos, que mal sabe a função do pipi, ir lá e beijar a menina ou andar de mãos dadas como se fosse sua namoradinha.

Essa erotização infantil é algo tão comum no nosso país que chegamos ao extremo de referências infantis serem Xuxa e Carla Perez. E isso não acabou, segue perpetuando-se em letras de funk do estilo “Baile de Favela” (que possui o maravilhoso refrão “E os menor preparado pra fuder com a xota dela”).

Porém, discordo na questão da cirurgia. Há pessoas que simplesmente não estão satisfeitas com seu corpo, seja porque não possuem peito, estão ficando calvas ou porque possuem pequenos (grandes) lábios vaginais ou um pintinho. Se há a possibilidade de corrigir algo que terapia não resolve, qual o problema? 

Em uma menor escala, eu comecei a ficar grisalho com 21 anos. Porém não era algo uniforme e sim uma mexa ridícula no topete. Todas as pessoas que eu conversava, reuniões que eu fazia, ficavam olhando pra porra do topete. Eu não achava aquilo bonito, nem sexy. Comecei a pintar e me senti bem. Depois de alguns anos ficou uniforme (o grisalho), mas ainda uso um pouco de tônico, pois se deixar eu aparento 40 anos de idade. Não quero parecer velho, e usar tônico não me faz uma pessoa fútil, manipulada ou que precisa ler livros de sociologia, apenas olho para o espelho e gosto do que vejo agora.

Enfim, voltando ao meu novo mantra, ele causou um efeito surpreendente nos meus relacionamentos com homens: nada mudou. Eu continuei saindo com homens. Continuei namorando homens e transando com homens. A única diferença relevante é que, como num passe de mágica, me livrei dos caras que transavam mal.

Cafa > Genial essa conclusão. Nesse texto você começa o raciocínio levantando a bandeira de como as mulheres devem evitar padrões de comportamento ditados pela cultura machista, mas morre na praia buscando homens que trepam bem. Profundidade de um pires.

O sexo era mais gostoso. Mais carinhoso, mais safado, mais bambeador de perna. Não tinha frescura. Esses caras, inclusive, eram muito mais seguros sobre aquilo que gostavam e não tinham medo de pedir. Dava pra ver que eles sentiam tesão no meu prazer. Eles também tinham três importantíssimas vantagens sobre os outros: nunca tinham frescura com uso de camisinha (ela sempre estava lá e sempre era usada); sempre faziam sexo oral; e não fizeram perguntas ou comentários desnecessários a respeito do tamanho do pau deles.

Outra vantagem enorme de abandonar esses rituais feitos pra entreter homens que provavelmente não saberão te chupar é que você economiza tempo, dinheiro e sofrimento (uma depilação a cera de axilas+virilha+pernas não sai por menos de R$70, sangue, suor e lágrimas).

Cafa > Aqui você subestima a inteligência das mulheres tachando que o uso de maquiagem/depilação é fruto de uma mente frágil manipulada por uma indústria cosmética machista. E pior, pensei que seu raciocínio seguiria a linha do “essas coisas superficiais só atraem homens superficiais”, mas não, fica ainda mais rasa, pois isso só atrai homem que não vai saber te chupar. Ou seja, adote o estilo mulher das cavernas e você ganhará um gorila exímio chupador de xoxota. Pelo amor..

Então, proponho esse exercício: pare de se importar tanto com o que o mundo espera da sua aparência. Você não gosta do cara do jeito que ele é? Com a barba que cresce irregularmente, umas 3 espinhas na cara e o tênis velho de guerra todo arregaçado? Então por que ele, do alto de sua naturalidade, só conseguiria gostar de uma boneca toda trabalhada em primer redutor de poros e micropigmentação na sobrancelha?

Cafa > Você começou bem, mas de novo voltou a análise para o seu microcosmo. Não faça o seu gosto e estereótipos uma regra universal. É bem provável que um cara desprovido de vaidade tenha mais desinibição na cama por ter menos com o que se preocupar na hora de ficar nu. Agora isso não faz dele uma pessoa honesta, carinhosa, decente, etc.

No fim das contas, isso não é só sobre sexo ou homens, isso é sobre quebrar essa ideia tóxica de que você não está aceitável como mulher enquanto não alterar a sua aparência. Lembre-se que existem poderosos executivos comprando carros e iates caríssimos com a grana que a gente gasta em tubos de creme para celulite (que não fazem nenhum efeito, sabemos). Faça-se um favor e dê à esses caras um sincero “foda-se”. Eles provavelmente fodem mal também.

Cafa > Olha só como falta coerência no teu discurso, assim como a da maioria das feministas modinha. Você começa a conclusão falando “isso não é só sobre sexo ou homens” e termina falando que um tipo de homem provavelmente “fode mal”. Mas ok, vamos para o meio da conclusão, que é no mínimo interessante.

Você vomitou, em poucas linhas, um brainstorm de toda sua ojeriza por homem bem sucedido, sociedade capitalista e cosméticos. Mas ele não sustenta o discurso feminista. Da mesma forma que há ~executivos milionários poderosíssimos~, há executivas milionárias com tudo o que você falou e ocupando altos cargos em grandes multinacionais. Sim, algumas não trepam tão bem, muitas pelo mesmo motivo que o cara vaidoso, mas ao invés da preocupação estar no corpo, ela está na cabeça. Possuem uma rotina estressante, metas para bater, e quando são empresárias é pior ainda, pois são responsáveis por milhares de pessoas abaixo.  Conheci muitas desse perfil e não tinha ódio ou bravejava o desempenho sexual delas para mascarar o fato de que eram mais bem sucedidas que eu.

Veja bem, minha crítica nesse texto não é a respeito da luta das mulheres por igualdade. Acho fundamental que essa luta continue, pois o machismo ainda é forte na nossa sociedade. Trabalhei em lugares que supostamente todo mundo era igual, mas na folha de pagamento 90% das mulheres ganhavam menos e exerciam as mesmas funções dos homens. Feminista modinha, por exemplo, enchem o saco, pois o Temmer não colocou uma mulher como ministra, mas nossa população é composta em sua maioria por mulheres (51,6% pra ser mais exato), mas em todas as esferas políticas elegíveis pelo povo a maioria esmagadora é de homem (pra ser mais exato, menos de 10% dos deputados são mulheres e no senado 18%). Por que não fazer a crítica em um movimento de conscientização de voto a esse respeito?

Há muito que ser feito, e obviamente que a discussão não se restringe a política, mas enquanto perde-se tempo em coisas babacas como pelos no sovaco, a busca da chupada perfeita, etc nada muda.

Por fim, não é porque algumas pessoas encontraram a felicidade em um tipo de homem ou abolindo a gilette do armário é que todas as mulheres irão se realizar com tal renúncia. Viva as diferenças, seja qual for o gênero das pessoas.

Dia das leitoras – Homens imaturos e química virtual

Desde que comecei a escrever o blog, lá no início de 2007, tenho visto a proliferação de dois grupos de pessoas que me cansam bastante, as feministas modinha e homens imaturos. As primeiras eu ainda farei um post a respeito, pois é tanta coisa pra falar e polêmica que não cabe nesse post. Meu foco é no segundo grupo.

 Homens imaturos possuem algumas características em comuns. Normalmente são muito vaidosos, possuem o ego lá em cima e mamãe/papai estão sempre limpando o bumbum dos cocozinhos que ele faz pela vida. É um cara de aparência positiva, mas com o interior oco e uma base moral fraca. Ele não hesita em fugir ou mentir em situações que exigem maturidade.

A leitora dessa semana encontrou um desses caras. e naturalmente acreditou que a culpa pela furada fosse dela. Vamos ao caso:

“Através de amigos em comum um conhecido se aproximou de mim, tínhamos nos visto algumas vezes, nada além de contato básico. Ele pegou meu telefone (whats) e começamos a nos falar. O rapaz passou a me ligar e a ficar horas comigo no telefone, veja bem, HORAS! Contava desde suas filhas, trabalho a assuntos nerds em comum ( I’m a Nerd). Coisas do tipo: “com vc eu encaro qualquer coisa” / “você é incrível e eu estou adorando conhecer você”/ “ao menos uma vez por dia você me surpreende positivamente”, eram frequentes.

Cafa > Sempre suspeite de promessas virtuais e exageradas. Não é possível alguém encontrar o amor da vida sem contato físico. Outra, escrevendo você tem tempo de pensar, de filtrar, colocar máscaras sociais que fatalmente caem depois de  alguns contatos presenciais. Além disso, não é comum (e na minha opinião “saudável”) falar de assuntos tão íntimos como filhos com um(a) desconhecido(a) .

Mostrou-se alguém bacana, inteligente, educado, levemente arrogante e de ego super estimado – nem tudo são flores e defeitos são necessários.

Cafa > Sem dúvida, mas alguns defeitos já dão indícios da personalidade do cara e explicam as atitudes.

Uma semana depois surgiu a oportunidade de irmos todos para uma balada, aniversário de um amigo em comum.

Já estava tudo programado para “esticar” depois.

Cafa > Entendo que as vezes planejamos a saída perfeita e obviamente ela inclui o gran finale. O problema é que você criou uma grande expectativa sobre o cara, bolou um plano para o after party sem contar que ele poderia simplesmente não querer. Se você tivesse agido com mais naturalidade, sem tanta premeditação, talvez tivesse se frustrado menos.

Assim que ele me viu, ficamos. Depois me arrastou para fora da balada para conversarmos a sós e ele disse, segurando minha mão: ” Primeiro roles de muitos, tenho certeza” além dos elogios.

Cafa > Aqui ele mostrou o ápice da imaturidade. Por n motivos ele pode ter achado o encontro uma porcaria, pode ser que você estava com bafo, que o beijo tenha sido uma merda, que ele encontrou alguma ex, sei lá.

O fato é que poucos homens (ou quase nenhum) vão falar na cara da mulher que não curtiu, mas sem dúvida alguma vão ficar calados e/ou frios. No seu caso e desse rapaz, houve uma “química virtual”, criou-se uma falsa intimidade e ambos esperavam que fosse se confirmar no encontro. Como o cara é imaturo, ele ficou com medo de te chatear e ao invés de deixar apenas a coisa esfriar, fez falsos elogios e promessa.

(Há também a possibilidade desse menino estar sob efeito de bala ou MD(MA). Nesses casos o cara ama até a parede da balada. Enfim, fica apenas como uma hipótese).

Voltamos para a pista de dança, ele longe de mim o restante da noite, das poucas vezes q me aproximei ele correspondia, mas de forma distante. Não encanando com isso, fui dançar \o/  Não forcei, achei que talvez depois na balada as coisas melhorariam.

 

Cafa > Pelas atitudes ele deixou claro que não rolou nada entre vocês. Você não captou a mensagem e ai ele teve que finalmente sair da toca.

Na hora de ir embora, me despedi do pessoal ele também. Entrei no carro e ele disse pela primeira vez: “Não conheço nada por aqui” – da fato era longe da casa dele. Eu “tudo bem, eu conheço”. Andamos 50 metros e veio a primeira frase derradeira: “Melhor você ir com a sua amiga” eu quieta tentando entender o que ele estava falando; 50 metros depois “Melhor você ir com a sua amiga”.

Desci do carro, liguei para um amigo que estava ainda perto e foi me buscar. Me senti feia, gorda, suja, usada e eu não estava nada disso, só que me senti na hora e com razão.

Cafa > Olha, usada você seria se ele tivesse te levado pro motel e saído no meio da noite. Já vi casos tensos. Em um deles, a irmã do meu amigo deu pra um cara no estacionamento da balada. Depois do ato, eles saíram de carro, pararam na primeira padaria aberta e ele pediu que ela comprasse um refrigerante, pois estava com sede. Como o lugar era meio barra pesada, ele disse que ficaria no carro. Assim que ela entrou, o cara deu partida e largou a garota sozinha no meio do nada.

Seu “amigo” foi um escroto por ter feito você descer do carro. Essa desculpa de “não conheço nada por aqui” é ridícula. Hoje, com Google Maps/Waze, nego só se perde se for um filhote de asno. Já você, fica a lição de não criar grandes expectativas antes de conhecer alguém pessoalmente e evitar primeiros encontros em balada.

Nenhum pedido de desculpas recebi depois e tbm não fui atrás. Ao contrário, ele foi conversar com uns amigos e disse que não sabia o que tinha acontecido e que nunca mais marcava role pra conhecer ninguém. Só que era ele quem dizia que estava indo exclusivamente pra me ver.

Cafa > Talvez a mensagem não chegou completa pra você. É mais fácil eu me vestir de baiana do acarajé a algum homem fofocar a crítica que seu amigo fez sobre uma garota. Não estou falando que é o seu caso, mas talvez o seu amigo antes de tudo é amigo do cara.

Achei bem atípico, nunca tinha passado por isso e daí resolvi pedir opinião para sua experiencia.

O que diabos aconteceu ? É comum o interesse sumir em 5 minutos. Bipolaridade ou só falta de interesse ? E pq mentir pra pessoas que ele sabe que viriam me contar ? Pura manipulação? Ajuda?

Cafa >Lembro-me de uma vez que sai com uma amiga de uma colega de trabalho. Foi tudo perfeito. Tínhamos os mesmos gostos musicais, a química era boa, rolava um papo bacana e tal. Saímos um dia e no dia seguinte. De repente ela esfriou e no terceiro dia disse que não tínhamos nada a ver. Não entendi um caralho e fiquei meio puto na época.  Bati um papo com a minha amiga e ela não soube explicar. É óbvio que ela sabia o motivo, mas não me contou.

Não sou de sofrer pelos cantos, não deu certo com ela, tem muita mulher nesse mundo pra bater o sino. De qualquer forma, não deu um mês e vi que a garota estava namorando. Ou seja, a “química” pelo visto rolou só pra mim ou talvez tenha rolado mais com o outro cara. Seria tão mais fácil as pessoas simplesmente falarem que não rolou, mas maturidade hoje em dia está cada vez mais em baixa, principalmente entre os homens.

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Quer mandar a sua história para o Dia das leitoras? Não posso garantir que responderei todas, mas se for algo interessante e resumido, as chances aumentam. É só enviar para cafa@manualdocafajeste.com